quinta-feira, 31 de julho de 2008

A história dos “Badios” e os Boavistenses

No jornal Expresso das Ilhas, edição 346 a notícia manchete foi "Badios" são "maltratados" e "discriminados", isto na ilha das dunas. A fonte de informação da notícia foi o edil da Câmara Municipal de Santa Cruz, Orlando Sanches.
Alguns comentários a cerca do assunto foram deixados no site Expresso das Ilhas, todos criticando esta discriminação por parte de alguns Boavistenses face aos “badios”. Alguém chegou ao ponto de levantar a hipótese de fazer o mesmo com os Boavistenses residentes na ilha de Santiago.

Mas eu levanto algumas questões! Já perguntaram aos Boavistenses porquê que estes não gostam dos “Badios”? Será pelo facto dos “badios” invadirem a ilha fantástica? O quê que os “badios fizeram para merecerem tal acto? Afinal o quê que se passa na ilha das dunas?
Estas são algumas das perguntas que carecem ser respondidas para que tudo isso possa ser esclarecida. Porque muitas vezes, a tendência é de escutar somente um dos lados envolvidos na história - afinal já temos uma versão a outra não é assim tão importante. Só que esquecemos que há a necessidade de contrastar os factos, sendo por isso é imprescindível as duas versões da história. Só assim poderemos, analisar, interpretar e chegar as conclusões necessárias.

De certo que o comportamento entre o pessoal destas duas ilhas necessita ser trabalhada. É claro que existe excepção para algumas regras. Assim como existe “badios” bem aceites pela população da ilha das dunas, existe aqueles que são mal vistos. Como diz os indivíduos da ilha fantástica tudo depende do comportamento do recém-chegado (pelo menos na zona Norte da ilha). “Há que saber chegar, bater e entrar na casa dos outros”.

Alguns eventuais motivos dessa discórdia vieram desde a chegada dos primeiros indivíduos de Santiago á ilha das dunas. Desde a implementação da 1º barraca na ilha – facto que contribui e muito para o desenvolvimento desse sentimento negativo entre pessoas das duas ilhas.
Na altura Boa Vista era uma ilha com pouca gente onde todo o mundo conhecia todo o mundo, todos eram amigos de todos, a população vivia estável, não havia a necessidade de trancar as portas e as janelas, não havia perigo nas ruas, nem sequer barracas etc.
Não é por ser da Boa Vista que estou a contar isto, mas sim por estar lá na altura, por viver lá e por presenciar certos comportamentos negativos.
-Um belo dia, num final de semana, um grupo de rapazes (“badios”) seguiram rumo ao Norte – foram dar um passeio. Na volta para a casa estes depararam com um grupo de cabras, não importando em saber quem era o dono, correram atrás dos animais e capturaram uma. Ao coloca-lo no carro alguém de Boa Vista chamou-os atenção e um destes respondeu: “É di bó? Si el é di bó bu bem toma.”
-Um certo dia também, um Sr. dono da sua horta foi ver se tudo estava ok no seu campo. Quando este chegou lá deparou com dois “badios” a cortarem as suas tamareiras e ele disse: “quer dizer ezot one nem mi nem buces ca ta cme tâmara”.

Mas assim como existe comportamentos negativos por parte dos “badios” existe também condutas negativas por parte dos Boavistenses.
-Um certo dia havia um “Badio” a vender vestuários de porta em porta. Chegando na casa de um conhecido meu, por não saber o nome deste chamou-o de papa. O Sr. extremamente irritado descompôs o vendedor só pelo facto de este dirigir a ele de uma forma que ele considerou propícia.
Situações do género acontecem todos os dias na ilha das dunas não somente entre indivíduos da Boa Vista e “Badios” mas também com os chamados “mandjacos”.

Mas a conclusão que se pode chegar é que se calhar o pessoal da Boa Vista não estava ou não está preparada para o desenvolvimento. Violência, pobreza, insegurança, roubos etc são “filhos” de desenvolvimento logo os Boavistenses terão que saber conviver com tudo isto. Há a necessidade de se consciencializar que a ilha está a desenvolver e este arrasta consigo tanto aspectos positivos como negativos.Prepara população de Boa Vista porque daqui a alguns anos Boa Vista será do mundo e não dos Boavistenses.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Cabrer pastor e o Italiano

Hoje contrariando ao costume não vou escrever crónicas nem notícias, mas sim vou contar-vos uma pequena história que se passou na Ilha das Dunas entre um indivíduo da Boa Vista e um Italiano. Mas eu só vou contar a história se tu prometeres que vais sorrir. Vais sorrir! Ah! assim é que eu gosto. Ami mca ta conta xtoria que pa gent fca dboca ftchod, ta dom vergonha. Sbu ca gosta fingi mo bu gosta.
Então vamos lá.

Na Bubista tinha um Italion kta livaba si vida numa boa. Al tinha se casa, se animais etc. cosas que tud gent de parfora (pessoas do interior da ilha) tem. E sendo el um italion é clar que al ca tinha get quê pa cuida de se animais. Anton al contrata um mos de Bubista la de nha zona (Norte – João Galego) qué pa cuidaba el de se animais. Tud dia mos ta bába tra cmida pa da cabras, al ta daba es agua, tra leite, radja cabrit (coloca cabrite longe dsi mãe), quês cosa que quem dja vivé na comp sabé.

Um dia pa azar con mos ba pa cerc (lugar que gent ta po animal) al otcha cer caid na tchon, tud cabrit dja saíba de dent cerc dja baba otcha ses mãe – consequência as mama tud leite. Agnelo preocupod, al ca sabia o quê que al tava ta ba fla sr Armando. Al fazé tud o que al tinha pa fazé na cerc, cond al termina al segui rumo a casa de Armando. Tchegod la, cun cara feia que ta tchaba transparecé preocupação e desespero, Agnelo bá fala ma sr Armando. Mesmo na kel clima ou então pa sr Armando comprindia el drete Agnelo fala ma sr Armando tud na italion e el fla:
Agnelo: Armando hojes catenes letes.
Armando: Perché Agnelo.
Agnelo: perché cercos rombaros, cabritos zradjaros, mamaros tudo las letos.

Ah Italianos! Quer dzer Bubistense. Bu sabé bubista hoje em dia ta moda Itália e tud gent ta fala ou pelo menos ta kre fala italion, alguém iá fala bolinha...

sábado, 19 de julho de 2008

Lá vai o coitado do burro

1 de Janeiro de 2007
Ano novo, vida nova, experiências novas. É com base nesta frase que um grupo de Rapazes de João Galego decidiram fazer algo que ficasse marcado para a história desta localidade. O quê que resolveram fazer naquele dia? Imagina só, determinaram fazer uma grelhada de burro. Sim, isso mesmo! Grelhar o burro, aquele animal que tem orelhas grandes, 4 pés e serve para o transporte de cargas e pessoas pelo menos na ilha das dunas. Mas vamos ao que interessa!Lembro-me que era por volta das 9 horas da manhã, eu estava deitada na minha cama cansada depois de ter passado uma noite maravilhosa! Aliás era noite do fim de ano. Um grupo de rapazes entraram na nossa casa com uma barulheira que acabou por acordar todo o mundo – alias todo o mundo nada eu e a minha irmã Isa. Levantei-me meio “stramontod” e perguntei a minha irmã o que se passava. Ela com um ar meio surpreso e parecendo não acreditar respondeu-me: “arr ta bá mata burr pa cmê”. Eu surpresa e ao mesmo tempo contente porque afinal ia realizar o meu desejo. Isto porque todas as pessoas que comeram carne de burro disseram-me que esta era maravilhosa, logo criou em mim o desejo de experimentar.

Corri para a casa de banho, lavei o rosto, passei uma mão no meu cabelo, apanhei a minha câmara fotográfica digital e fui atrás dos rapazes. Descemos uma ribeira, conhecida por “rbirinha”, percorremos mais uns metros e chegamos ao ponto do encontro. Ainda não acreditando, eu e a minha irmã, as únicas mulheres presentes no acto, ficamos ali a observar mas ela acabou por desistir devido ao facto de não aguentar mais ver aquela cena.


Era uma coisa estranha, apesar de semelhante ao que acontece com os outros animais que já estamos acostumados a lidar. Talvez pelo facto de ser um animal muito grande. O que é certo é que dava arrepio ao ver os rapazes a esfaquearem o coitado do burro e ver todo aquele mar de sangue espalhado no chão. O animal lutava com toda a sua força para ver se conseguia escapar mas todo o esforço foi em vão.


A minha irmã arrepiou ao ver aquela imensidade de sangue no chão, parecia que os cabelos dela iam fugir. Mesmo assim no meio daquela cena chocante os rapazes encontravam forças para brincarem uns com os outros chegando a dizer: "panha tchala (titapa na badiu) pa pta sangue pa fazé botchada". Desanimada com a situação a minha irmã deu as costas e abandonu o local.
Para ela seria natural se aquele animal que estava ali esticado no chão a sofrer fosse uma cabra, uma vaca ou até mesmo uma galinha mas não, era um burro, um animal que serve simplesmente para o transporte e não para meter na panela quanto mais comer.


Após ter morto o animal, tiraram-lhe a pele, a cabeça e de seguida abriram-lhe a barriga e fizeram-lhe uma limpeza por dentro e depois esquartejaram-no. De certo que todo o material que não iria ser utilizado foi jogado fora, inclusive os rins, os pulmões, o coração e toda a ossada – estes eram para os animais.


A parte mais engraçada foi a chegada do grupo na localidade de João Galego. Meu Deus! Imagina você a confusão entre os prós e contra do acto que tinha acabado de ocorrer. Não queres? Pois, não o faça porque não o vais conseguir. Uma turma de um lado com expressões faciais conotando nojo; os prós todos sorridentes porque afinal iriam ser os primeiros na zona Norte a comerem carne de burro. O mais interessante que a explicação utilizada para os prós era o seguinte: “sno ta cme galinha kta cme na káka, lixe; sno ta cme porc kta cmé um mont dmer…, porque ke nó ca ta cmé burr ke ta cmé só padja”. Por um lado eles estavam certos, nos comemos galinha e porco que são dois animais sujos, posso assim dizer, que comem de tudo o que lhes passam pela frente porque não comer o burro que só alimenta da sua palhinha que ele encontra no chão e que o seu dono lhe dá. Se as pessoas me disserem que não o comem porque este não se encontra no nosso cardápio! Aí sim eu respeito a decisão de cada um porque este é um aspecto curioso e interessante. Lembro-me que mesmo querendo comer aquilo havia uma série de barreiras que para ultrapassa-las foi preciso um esforço enorme.


HORA MAIS ESPERADA


Depois da discussão ter acabado, de ter cortado e temperado a carne, “no tchal ta tma temper”, isto por volta dos 12:30. Às 5 horas da tarde segue a ora mais aguardada do dia. Uns para saborearem o gosto da carne de burro, outros para verem se as pessoas realmente tinham a coragem de comer a referida carne.


“Até quenfim” Chegou a hora! Dá para imaginar a quantidade de pessoas presentes naquela rua? Se não estou em erro 70% da população de João Galego se encontrava ali à espera. “Grilhada a vontade”. A cara de uns assemelhava a cara de quem estava comendo um bom prato de lazanha ou então um bife de vaca bem passado na frigideira, uma cabritada, enfim comidas que dão agua na boca só de pesarem nelas. Outros nem dá para descrever a cara porque se assim o fizer você que esta lendo esta história de certeza que vai sair correndo para a casa de banho. Mas continuando. Lembro-me que alguém apareceu e disse: “buces ta na zoológico” e um dos degustadores da carne do burro respondeu – “ primer animal li presente i bu pai kta li ta cme burr moda um doit”. Na verdade o pai desta pessoa pensava que aquela grelhada foi feita pensando nele. É que esta pessoa comia aquela carne que … nem sei como descrever. Parecia que ele não havia tomado café, tão pouco almoçado só para se preparar para o acto.


Os grelhadores – Arieta, Banet, Culit, Plera – estavam ali prontos para servirem os “clientes”. De certo que eu e a Banet a coragem nos faltou. Demoramos um tempo para saborear aquilo. Todo o mundo perguntava “Arieta dja bu cmê?” E eu respondia “sim”. “Anton manera qta” – “uma delícia” – respondia eu. O que é certo é que naquele momento eu ainda não tinha provado nada. É que de repente deu-me um nó na garganta que nem eu sabia explicar o que era.


Enquanto eu e os meus colegas estávamos ali no batente a grelhar, um bando de pessoas sorridentes e com “bocas bem ferozes” saboreavam a carne de burro. Parecia que estávamos num cinema: no palco os degustadores e os grelhadores de burro e ao redor o publico. Mas o triste da história é que a nossa peça não foi aprovada pelo público, infelizmente este não gostou da cena retratada no “filme”.


Quanto a mim, confesso que comi a carne mas o mais importante eu não soube fazer – não consegui degustar a carne. Talvez o receio por estar a comer uma coisa que não faz parte do meu dia a dia; comer um animal que eu utilizo só para montar e seguir rumo a “cabeça de curral doce” ajudar o meu pai e os meus irmãos na agricultura; ou então porque vivi toda aquela cena chocante do esfaqueamento do animal. Uma experiência nova que ficará marcada na minha memoria e na memoria da população de João Galego - 1 de Janeiro de 2007 data inesquecível.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Relembrando 1 de Janeiro de 2007

Finais do mês de Dezembro. Tempo de ferias. De tão empolgadas em passar os 15 dias junto dos familiares e amigos, nem deixamos a semana de aula terminar. Eu e a minha irmã Isa logo procuramos uma embarcação rumo a nossa ilha natal. Lembro-me que era uma quinta-feira. O dia não me-lembro, tão pouco a hora. Naquele preciso momento o que vinha a nossa mente era a chegada na ilha da Boa Vista. Uma chegada que não queria chegar. Sabes daqueles momentos quando estamos a espera de algo, e o tempo parece que não anda, pois é, era assim. Dormíamos, acordávamos e nada. O relógio nem sequer andava.

De repente alguém gritou: alá bubista la! Odja rotcha dstanja.
A multidão preocupou. Todo o mundo levantou com aqueles olhares, uns que dáva até arrepio, parece que a cara precisava passar por uma máquina de engomar para poder esticar a pele.


Enfim depois de um algum tempo o Barco apoiou-se no cais da ilha. Um bando de pessoas à espera. Não sei se iam procurar as suas cargas, familiares, amigos ou ate mesmo “fofocar”. O que é certo é que estas pessoas estavam todas de caras levantadas em direcção ao barco, como os burros nos dias de chuva – mas nesse caso não serve porque os burros nos dias de chuva ficam de rabo voltado para a direcção da chuva.


Descemos do Barco, cumprimentamos alguns amigos e conhecidos e de seguida entramos num carro e seguimos em direcção ao Norte, particularmente João Galego. Os 30 Km que separa esta localidade da Vila aproveitamos para refrescar a memória. As paisagens áridas do caminho Vila/Norte, as montanhas de “Pass Cont”, as ribeiras de “scriber” repletos de tamareiras e coqueiros, e aproveitamos também para avistar a Fátima logo à entrada de um novo caminho que leva-nos á localidade de Bofareira. Percorrendo mais uns Km. Chegando ao “cruz pret” aí se pode avistar as três localidades do Norte – João Galego, Fundo das Figueiras e Cabeça dos Tarafes.


A ansiedade era tanto que parecia que o carro não andava, que o caminho cada vez parecia mais longo. Fechamos os olhos e ao abrir deparamos com a entrada da nossa localidade querida - João Galego. Daí podes avistar o centro de juventude, a escola primária, a igreja, USB, tudo numa única rua recta – a tal famosa Rua Dreita de Tio Lino.


Numa localidade onde todo o mundo conhece todo o mundo, dá para imaginar a alegria dos amigos, dos familiares, dos conhecidos com a chegada das duas irmãs.
A partir desta data foi somente festas, paródias, convívios etc. mas há que realçar que a mais marcante foi a do dia 1 de Janeiro de 2007 – dia em que alguns rapazes de João Galego decidiram comer carne de burro. (bu cre sabé xtoria de cmida dburr? Fca sintonizod)

terça-feira, 1 de julho de 2008

Santa Isabel na Ilha das Dunas

Fim-de-semana promete muita festa para a ilha das dunas. Sexta-feira, 4, é o dia do Município da respectiva ilha. As comemorações a este dia começaram desde a semana passada com alguns jogos de uril, basquetebol, bisca, andebol e futsal.

Algumas actividades já foram realizadas tais como o lançamento do livro de Geraldo Almeida que abarca o tema de Estudos sobre o Direito Cabo-verdiano e outros estudos jurídicos. Ainda nesta onda de festejos, Kim Alves, Magala, Neneu e Tuia proporcionaram aos Boavistenses uma noite de guitarra no final de semana.

De certo que muitas actividades estão por vir tais como exposições de pintura, artesanato, gala de vozes, assinatura de alguns protocolos por parte da Câmara e o tão aguardado concurso de beleza das formosuras da ilha (Miss Bubista).

No dia 4 em homenagem à Padroeira Santa Isabel será realizada uma procissão seguida de uma missa na Igreja da Vila de Sal Rei. Mas o ponto alto da festa do Município da ilha da Boa Vista é com a actuação dos Livity. Este grupo que marcou a época, vai levar ao povo Boavistense as musicas que determinaram o sucesso da banda prometendo assim sacudir o publico que vai estar presente.